“Mulherada, pretos e pretas, é possível”. A frase foi dita com orgulho pela judoca Beatriz Souza ao conquistar a primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2024. Beatriz, assim como outras atletas brasileiras, não apenas elevou o Brasil ao topo do pódio, mas também trouxe à tona uma reflexão necessária sobre a nossa sociedade ser marcada pelo machismo e pela violência contra as mulheres, especialmente as negras. Elas são símbolos de representatividade em um país onde as mulheres ainda são subjugadas e marginalizadas.

A ginasta Rebeca Andrade, que se tornou a maior medalhista olímpica da história do Brasil, também destacou a importância de ser “mais uma referência negra” para todas as crianças e adultos.

Apesar de comemorar as suas campeãs olímpicas, o país ainda é racista, xenófobo e injusto. Mulheres negras são as que mais sofrem com a violência obstétrica, as que enfrentam maiores taxas de desemprego, e as que, muitas vezes, veem suas vidas ceifadas pelo feminicídio. As atletas negras que brilham em Paris, apesar de todas as adversidades, desafiaram o destino e alcançam o topo. Mas quantas outras Bias e Rebecas não têm essa mesma sorte?

Pela primeira vez, o Brasil teve mais mulheres do que homens em sua delegação. As mulheres conquistaram todas as medalhas de ouro do país e 12 das nossas 20 medalhas, com Beatriz Souza, Rebeca Andrade, a dupla Ana Patrícia e Duda no vôlei de praia, Tatiana Weston-Webb no surfe, Rayssa Leal no skate, Larissa Pimenta no judô, e Bia Ferreira no boxe. Mas, apesar desse protagonismo, as mulheres ainda são excluídas dos principais cargos de decisão no esporte brasileiro.

As Olimpíadas nos lembram que o esporte pode ser uma arena poderosa para discutir as dificuldades enfrentadas por milhões de mulheres no Brasil. E enquanto celebramos essas vitórias, não podemos esquecer que o brilho do ouro só é verdadeiramente valioso quando refletimos sobre as injustiças que ele nos permite enxergar.