Em 26 de junho, Dia Internacional de Apoio às Vítimas da Tortura, o Brasil vive uma realidade dolorosa: apesar de muitos imaginarem que a tortura ficou restrita à época da ditadura, ela está presente no cotidiano de muitas famílias, especialmente devido à violência policial.
As vítimas, na maioria das vezes são jovens negros e periféricos. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta sobre as mortes de brasileiros por policiais que 99,2% das vítimas eram do sexo masculino, 52,4% tinham no máximo 24 anos e 84,1% eram pretas ou pardas.
É neste cenário que há 18 anos as Mães de Maio, mulheres forjadas na dor da perda dos seus filhos, encontraram no ativismo um meio de lutar por justiça e pela memória daqueles que partiram de forma brutal.
O Movimento Mães de Maio, originado após os trágicos eventos de maio de 2006 em São Paulo, emergiu como uma voz coletiva contra a violência policial desenfreada. Naquele período, após ataques que vitimaram 41 agentes de segurança, centenas de jovens foram mortos em uma onda de execuções, muitas vezes perpetradas por policiais. Para as mães, esses jovens não são apenas estatísticas, mas filhos cujas vidas foram ceifadas pela brutalidade estatal.
Um estudo do Núcleo de Estudos da Violência da USP e outras instituições revelou como a maternidade se tornou uma ferramenta de resistência para essas mulheres, enfrentando diariamente a violência e o abuso de poder por parte do Estado. Elas transformaram sua dor pessoal em uma causa pública, desafiando a indiferença e a impunidade que cercam as mortes de seus filhos.
No Dia Internacional de Apoio às Vítimas da Tortura, as mães de maio nos lembram que a dor de perder um filho para a violência policial é agravada pela impunidade e pela desumanização das vítimas.
Suas vozes, carregadas de indignação e luto, são um chamado à ação para uma sociedade que não pode mais tolerar a desumanização de seus jovens, especialmente aqueles que são vítimas da própria força que deveria protegê-los.